No mundo todo existem 8 formas de registrar por escrito as línguas de Sinais.
Pelo menos, este foi o número que encontrei em minhas pesquisas . Entretanto, a grande maioria destes sistemas de escritas não são usados, eles apenas foram criados para demonstrar a possibilidade de registro das línguas de sinais de forma direta ou foram utilizados apenas por uma época pelo(a) próprio(a) criador(a) do sistema.
No Brasil, dois destes sistemas vem ganhando força e adeptos nos últimos anos: o SignWriting e o Elis.
O SignWriting é um método criado pela Valérie Sutton em 1974 que permite registrar qualquer sinal de qualquer língua de sinais, pois possui muitos caracteres, possibilitando o registro não apenas de qualquer sinal ou gesto manual, e sim, qualquer movimento que seja feito com o corpo, cabeça, língua e etc. Tudo aquilo que pode ser feito e visto com um corpo, o sistema Sutton permite registrar.
Sendo assim, é um método de registro muito completo, tridimensional, sem a necessidade de ser linear.
Já o Elis, foi proposto pela Dra. Mariângela Estelita Barros em 1998 focado em registrar os parâmetros linguísticos das línguas de sinais, de forma simples, direta, de forma linear de base alfabética (Visografema).
Assim como a escrita da língua oral, que no seu surgimento demorou bastante tempo para a sua difusão e uso por toda a população, as escritas das línguas de sinais percorre o mesmo caminho dificultoso de difusão.
Você já parou para pensar quantos anos, quantas décadas, quantos séculos passaram para que a maior parte dos falantes de uma língua oral do planeta soubessem escrever? Quanto tempo levou para que a maioria das pessoas conseguisse registrar sua própria fala?
Do mesmo modo, a escrita de sinais, independente do sistema de registro (Elis ou SignWriting), ainda não é usada nem mesmo por metade dos usuários das línguas de sinais, embora estejam em ascensão.
No livro "Língua Brasileira de Sinais: Patrimônio Linguístico Brasileiro" de 2018, foi relatado uma pesquisa feita sobre variação linguística da Libras no Brasil, com 861 surdos de diferentes idades, religião, estados, etnias, grau de escolaridade e entre outros.
Embora diversificado a amostra da pesquisa, considero um público mais qualificado, pois foram entrevistados surdos que já têm algum contato com o mundo acadêmico ou com pessoas universitárias.
Dentro desta pesquisa, ao perguntar se os participantes sabiam da existência de uma escrita de sinais, a maioria declarou que já viram falar sobre pelo menos um dos sistemas de escrita.
Entretanto 59% demonstraram não saber escrever e nem ler em nenhum dos dois sistemas.
Enquanto 31% demonstraram algum grau de proficiência na escrita e leitura através do sistema SignWriting e 7% sabiam em algum nível escrever e ler através do sistema Elis.
Interessante perceber que todos participantes da pesquisa eram surdos.
O fato de 31% destes surdos saberem em algum nível escrever e ler pelo SignWriting é um bom número, considerando que o analfabetismo dos ouvintes do Brasil em 1900 era de quase 70%, sendo que a escrita do Português já existia há muito mais tempo, antes mesmo de 1500, em Portugal já utilizavam o português escrito.
Então comparando com o Signwriting, que foi criado em 1974, considero que estamos avançando em passos largos na difusão, embora não pareça.
O sistema Elis, tendo 7% também me parece promissor. Pois iniciou bem depois, quase no segundo milênio depois de Cristo. Considero um número de adeptos animador.
Mesmo com todo o meu otimismo ao ver os presentes dados, infelizmente para 59% dos participantes da pesquisa, a escrita de sinais não é usada e 3% apresentaram outras respostas.
Sendo a publicação de 2018, e olhando para o cenário atual ( ano de 2020) eu me sinto muito animado.
O ano de 2019 foi um ano que muita pessoa começou a se interessar e aprender as Escritas de Sinais.
Tanto a Elis ganhou mais seguidores, quanto o SignWriting.
Por eu me afinizar mais com o SignWriting eu estou podendo observar melhor o seu processo de desenvolvimento. Reparei que assim como eu que comecei em 2018, vários outros surdos e ouvintes começaram.
Neste ano de 2020, nunca houve tanto material sendo feito simultaneamente em Signwriting no Brasil e no mundo.Todos os dias, vejo surdos e ouvintes postando imagens com frases escrita em Libras, pequenos textos, convites para palestras ou seminários com o tema escrita de sinais, manual de escrita, tradução de trecho bíblico, tirinha cômica, Quadrinhos bilíngues que adicionaram a escrita de sinais e tantos outros materiais.
Em meio à tudo isso, eu estou muito otimista quanto à expansão da escrita de sinais, principalmente do SignWriting nesta década.
Eu tenho uma predição de que até 2030 teremos muitos usuários de escrita de sinais no Brasil.
Imagino que teremos neste primeiro momento mais usuários ouvintes pois a maior parte do material de ensino e aprendizagem está em Português escrito, afastando assim as possibilidades dos surdos, pois é muito difícil aprender a escrever a sua própria língua, vendo anotações do passo a passo em uma outra língua.
Porém, tenho a certeza que encontraremos meios melhores de letramento de surdos ainda nesta década.
Eu particularmente, me encontro totalmente determinado em me dedicar de 2020 até 2030 na divulgação e expansão da Escrita de Sinais no Brasil.
Já tenho em mente vários projetos que envolvem e que ajudará nesta labuta.
Com isso, convido a você que me lê a não perder tempo e já começar o seu processo de aprendizagem e que nos ajude nesta luta!
GOSTARIA DE APRENDER A ESCRITA DE SINAIS DE GRAÇA? NÃO SABE POR ONDE COMEÇAR?
Fiz um texto exatamente para você - https://textoemlibras.blogspot.com/p/onde-aprender-sw.html
Bom amei vou comecar
ResponderExcluirQuando fiz o curso de libras em 2016 o professor explicou sobre a escrita. Mas nunca encontrei ninguem que saiba.
ResponderExcluirÓtimo, professor! Como o Sr. Sempre diz: ENTAO VAMOS LÁ!!! Vamos começar a aprender a escrever em SignWriting!!!! Estarei divulgando a Libras e a escrita proposta.
ResponderExcluirBoa noite! Pode passar as referencias de sua pesquisa? Quais são essas "8 formas de registar a escrito as línguas de Sinais" do qual você citou.
ResponderExcluirO estudo que citei da pesquisa, foi tirado no livro " Língua Brasileira de Sinais: Patrimônio Linguístico Brasileiro" que foi produzido por uma colab lá na UFSC. Os autores são: Ronice Müller de Quadros
ExcluirBruna Crescêncio Neves
Deonísio Schmitt
Juliana Tasca Lohn
Marcos Luchi
Sobre os 8 sistemas de escrita, em breve eu farei um texto sobre isso aqui no blog.
Parabéns pelo estudo. Realmente a escrita da língua de sinais é um privilégio aprender. Não conheço ninguém que saiba. Também quero aprender. Penso que é muito difícil.
ResponderExcluirPesquisa interessante, professor. Obrigado pelo material disponibilizado aqui.
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